Escadas rolantes

Saindo do vagão as pessoas corriam. Eram cinco horas da tarde e elas disparavam, primeiro pela escada rolante, e quando esta enchia de gente correndo,

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As coisas que eu deveria ter dito ou as coisas que eu não precisava ter ouvido

Já faz um tempo, uma pessoa me disse que eu tentava ser muito legal com todo mundo, me disse isso num tom crítico, quase que me bronqueando por achar que isso era uma forma de falsidade ou uma pesada política da boa vizinhança. Confesso que me fez pensar muito sobre, liguei minha autocrítica e de cara me senti meio culpada, me perguntei se minhas falas eram inverdade, insensibilidade ou o quê. E me fez pensar tanto que hoje, depois de tanto tempo, sentei para escrever sobre isso.

 

Sempre me vem à mente que não quero, não preciso e não tenho o direito de estragar o dia ou os planos de alguém com sinceridades que (às vezes) é só a minha opinião baseada em minhas experiências. Sei lá, acho que prefiro sublimar algumas coisas até um certo limite, quando atinge esse limite, aí sim me sinto corroborada a dizer o que acho enquanto rodo as saias de minha baiana. Afinal, grosseria e rispidez não ajudam ninguém a nada nessa vida, penso eu.

 

Também não entendo quem faz críticas ruins/pesadas/ríspidas a quem produz algum material, seja uma canção ou uma cadeira, seja um lustre ou uma ilustração. A pessoa diz em tom ríspido: melhore! – E a pessoa do outro lado recebe a seguinte mensagem: não faça mais isso, não produza mais isso, você é ruim, não tem talento para isso.

 

O que me impressiona são as pessoas que são assim o tempo todo com as outras: são grossas ou ~sinceras demais (sabe aquela sinceridade que é quase uma agressão? então…) e justificam isso dizendo: sou sincera/o mesmo. Aí fica a questão: a pessoa-alvo de sua sinceridade te pediu essa franqueza ou você chegou sem aviso e disparou sua opinião honesta à queima roupa?

 

Aquela perguntinha bem maneira: essa pessoa me pediu uma opinião?

Pensando nisso comecei a construir mentalmente o que eu teria dito pras pessoas que me ofenderam com suas sinceridades cáusticas: é como um jogo, a pessoa me ofende e pá toma de volta. NÃO GOSTEI DISSO – NÃO PERGUNTEI; ISSO NÃO ESTÁ BOM – FAÇA VOCÊ, ENTÃO. Parece divertido, você imagina até a cara da pessoa levando sinceridade de volta na mesma medida. Mas, não sou assim e sei que não farei isso.

 

O que eu quero dizer nessa viagem toda: não seja rude, não destrua sonhos. Ninguém é a favor de opiniões falsas, mas seja doce o quanto puder. Às vezes, a pessoa só precisa de um incentivo ou de palavras amenas. E se o conteúdo do que tem a dizer pode derrubar a pessoa, não diga mesmo (MAS EU PRECISO DIZER precisa mesmo? Por que?). E fica a dúvida se o que a pessoa (no fundo, bem no fundo) quer mesmo é orientar, dar um toque ou se a vontade intrínseca é só de te botar pra baixo e te derrubar. Nossa cabeça é muito louca não é mesmo! E quem é o honesto que dirá: – verdade, acordei num dia péssimo e estava a fim de descontar minhas frustrações em alguém e resolvi ser sincero sobre as coisas que você fala/produz. Ninguém diz isso. Aí a honestidade foge? Ué. Sejamos sinceros, então, já que o papo é sinceridade.

 

Lá dentro do meu coração, bem lá dentro, eu queria ser daquelas que tomou, levou, pá-pum, mas não sou. Bora enfrentar a vida com couraça de açúcar.