(Release por Igor Leonel)
Eis o bom e velho indie rock dos anos 1990, confessional e cheio de guitarras, que nasce do som de corações se partindo. Também, pudera: todos da atual encarnação do September Guests fizeram ou fazem parte de bandas que exaltam a glória pós-grunge das seis cordas. A banda que antes trazia apenas Fernando Lalli (ex-Seamus) em formato solo agora tem a bateria de Sérgio Ugeda (Diagonal, Ike & Mano) e o baixo de Adriano Montoro (Charllote’s Suit, Fantasma, DO/Z, Calligari). O formato power trio evidencia as influências mais barulhentas da banda: dá-lhe Sebadoh, Buffalo Tom, Guided By Voices, Neil Young, Sonic Youth…
Muito desse universo já habitava o LP de estreia, Benigno Street Again (2015), mas sem o alicerce rítmico de baixo e bateria de Montoro e Ugeda. Burnout não tem esse nome a toa: foi composto por Lalli enquanto se recuperava de uma crise que o impedia até de trabalhar formalmente. “Não há como suportar todo esse contexto sem buscar refúgio na arte. Desde a adolescência, escrever canções é a minha comunicação mais eficiente com o mundo”, escreveu.
Produzido por Sérgio Ugeda, Burnout foi gravado quase todo ao vivo em salas de show, quartos e até mesmo escritórios. Também participaram das sessões Alexandre Lima (Topsyturvy, Pato Ataca, Mentecapto) e Marcelo Mandaji (Debate, Refluxo, Diagonal, Tomas Was Alone).
Desde o primeiro segundo da faixa de abertura, “Modern Cain”, percebe-se a preocupação em manter a beleza crua das canções, deixando ruídos e imperfeições como parte dos arranjos. A ironia de “Just Staying Alive”, a cama de efeitos que percorre “Please” e o solo de Lima em “Guide Me Home” se destacam. Mas a banda brilha mesmo é na multiplicação das guitarras de “Indian Summer” com os versos finais: “Life is easy when you are/ so miserable inside/ and no one knows your pain/ but it is your best friend”.