O caracol, que sentia muito bem as oscilações da terra e que gostava de se antecipar aos perigos, sabia que no pé da montanha de trás um bicho correu sozinho de um predador e pensou “é uma harpia, vou me esconder no buraco grande daquela árvore”. Tentou avisar os demais que havia um predador faminto e que devia ser uma ave, mas ninguém o ouvia, nem o tapiti, a matilha de jaguaracambé, o caxinguelê, o gambá, o coati. Ademais todos desprezavam sua companhia porque era lento e enfadonho.
O tatu que passava por ali lhe deu ouvidos e se interessou pelo esconderijo no buraco grande da árvore e para o amigo caracol disse “vamos juntos, que ali cabemos os dois, os outros que esperem a harpia”. Foram lentamente se aproximando da árvore, conversando animados pelos planos de um e pelas presepadas do outro, quando um fruto qualquer caiu no caminho e o tatu assustado tropeçou e tombou em cima do caracol, a um passo do buraco.
A amizade é algo poderoso, mas o azar é mais.”