Woodstock, agosto de 1969. Quase meio milhão de pessoas assistiram àquele que seria o maior festival de música de todos os tempos e um marco da contracultura dos anos 60. Pães, leite, cachorros-quentes e hambúrgueres, LSD, mescalina, maconha da boa, tudo vendido por alguns centavos. Acampamento livre e dormitórios a 1 dólar. O combo de ingressos por 3 dias de festa: $18. Trinta e duas bandas e artistas se apresentaram, como Jimi Hendrix, Canned Heat, Mountain, Janis Joplin, Joe Cocker, Crosby Stills Nash & Young, The Band, The Who, Greateful Dad, Santana, Creedence Clearwater Revival, Sly & The Family Stone, Joan Baez e Ravi Shankar. Em pleno auge da bipolaridade geopolítica, com a Guerra Fria, o consumo exacerbado de tecnologia de um sempre egocêntrico American Way of Life, a Guerra do Vietnã e os jovens contestando tudo isso, fosse no eixo hippie, ou em qualquer outra expressão, como o estilo de se vestir, o uso de drogas, a prática do sexo livre e, claro, o ouvir Rock n’ Roll.
Nunca um estilo musical foi tão presente nas revoluções e reivindicações do mundo. O que será que cantarolavam os israelitas naquele suposto Grande Êxodo? O que estavam ouvindo os soldados da Revolução Francesa? Teria Joana D’Arc e seus parceiros uma OST de responsa pr’aquele pedacinho da Guerra dos Cem Anos? Que som rolava nas reuniões da Rosa Branca alemã nos idos de 1943? O que será que estava tocando enquanto o Muro de Berlim caía? Eu, particularmente, não sei. Mas eu sei o que tocavam os negros escravos das plantações de algodão, lamentando e desejando dias melhores no grande império da segregação. Também sei o que rolava quando a mulherada resolveu queimar sutiã e tomar pílula pra poder transar mais à vontade, viver mais livre. Eu sei o que estavam cantando quando perceberam que a paz era merecedora de todas as chances no mundo.
Quantos outros momentos históricos tiveram uma música pra chamar de sua? E quantas canções hoje esperam um momento histórico pra chamar de seu?
Bem, eu aqui, no universo interior imenso e complexo do meu ser, venho trabalhando pra que todas as minhas batalhas pessoais e evoluções conquistadas a duras penas – que são meus momentos históricos particulares – estejam cuidadosamente embaladas pelo ritmo quente das grandes revoluções do mundo.
*Em tempo: no nosso país tropical, o rock demorou pra acontecer e a revolução recente mais dolorida foi banhada pelas águas mais calmas da música nacional. A trilha sonora dos anos de chumbo brasileiros, que, tristemente, se anunciam novamente como a ressurreição/salvação da pátria perdida, era basicamente a MPB e assim a juventude protestou caminhando e cantando e seguindo a canção. Qual será a trilha sonora da nossa próxima revolução, Brasil? É bom ir preparando o repê…